O americano Dan Geiter teve uma adolescência conturbada. Quando tinha 15 anos, roubou dinheiro da bolsa de um professor de sua escola e acabou sendo preso pela primeira vez. Geiter continuou cometendo crimes semelhantes durante os próximos 17 anos de sua vida.
Certo dia, porém, decidiu deixar de vez a criminalidade. “Eu estava sentado na minha cela, fazia uns 40°C e estava tão quente que os blocos de concreto estavam suando”, revelou ao site Business Insider. “Fiquei pensando em todas as coisas que eu poderia fazer se estivesse livre”. Uma vez liberado em 1999, Geiter se manteve fiel à sua palavra e nunca mais voltou à prisão. O que ele não sabia é que os desafios não terminariam ali.
“Ainda existe toda uma vida de encarceramento, mesmo depois de você ter cumprido sua dívida com a sociedade”, disse ele. Quando se mudou para Chicago, em 2007, foi difícil encontrar um lugar para morar — recusar candidatos por causa de antecedentes criminais era legal na época. Mesmo hoje, não existem garantias de que a discriminação não irá ocorrer.
Geiter também não conseguia encontrar um emprego. “O único trabalho que consegui foi como lavador de pratos na Pizzaria Uno, mas fui demitido no segundo dia, quando minha verificação de antecedentes chegou”, disse ele. Desesperado por melhores alternativas de trabalho, resolveu voltar à escola depois de quase 25 anos.
Ele se matriculou em uma faculdade comunitária, a Moraine Valley Community College, para estudar inglês. Seu desempenho foi impressionante, o que o incentivou a continuar. Em 2009, Geiter conseguiu seu certificado. Amparado pelo sucesso, transferiu-se para a Saint Xavier University, onde obteve o bacharelado em inglês.
Ele chegou a considerar sair da universidade, já que era dificil se manter estudando em período integral. “Eu estava sendo despejado de casa, não tinha mais nem luz elétrica”, diz Geiter. Foi quando uma gestora da Saint Xavier encontrou um doador que pagou o aluguel e despesas de Geiter enquanto ele terminava seus estudos.
Em seguida, fez seu mestrado na Universidade de Chicago e, finalmente, doutorado em educação na Benedictine University. Sua tese era sobre as consequências arbitrárias que indivíduos enfrentam quando são liberados da prisão.
“Tenho sido um bom cidadão, um bom pai e sigo as regras. Mas mesmo após deixar a prisão e passar pela condicional, todos os dias eu sofria os mesmos preconceitos, como se tivesse deixado a cadeia ontem”. Pensando nisso, decidiu continuar lutando contra o estigma de ser um ex-criminoso.
O plano era ambicioso: criar uma faculdade para ajudar alunos em situação similar à dele. E é nisso que Geiter tem trabalhado nos últimos anos. Após se juntar com ONGs que tinham o mesmo objetivo, nasceu o Ward College. “Decidimos abrir uma instituição que teria de 40% a 50% dos estudantes criminosos atuais e antigos, e não só para lidar com as questões acadêmicas desses alunos, mas para lidar com as variantes sociais, que são realmente um obstáculo para persistir no curso.”
O programa de certificação, apelidado de “Mereça e Aprenda”, exige que os alunos passem 20 horas em campo para o desenvolvimento da força de trabalho e 20 horas na sala de aula por semana. Com isso, também irão ganhar um salário semanal. A faculdade, localizada no sul de Chicago, será inaugurada em janeiro, com 30 estudantes em sua primeira turma. O objetivo é aumentar para 500 alunos até junho de 2017.
Com informações de: Época Negócios
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