A crise hídrica no planeta está relacionada não só com a falta de sistemas de purificação de água seguros, mas também com as mudanças climáticas, a rápida urbanização e a poluição. Água e saneamento básico são considerados direitos humanos, mas um quarto da população mundial não tem acesso à água, segundo estudo conjunto da Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Banco Mundial.
No Brasil, quase 35 milhões de pessoas vivem sem água tratada e 100 milhões não têm acesso a saneamento, de acordo com o Ranking do Saneamento 2022, do Instituto Trata Brasil. Diante desse panorama, a disponibilidade e gestão sustentável da água entraram na agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS). Buscando resolver o problema, várias startups criaram soluções tecnológicas voltadas para o uso sustentável da água.
A T&D Sustentável, startup especialista em gestão de recursos hídricos, oferece o Sistema de Economia de Água (SEA), que faz a gestão de grandes consumidores. A solução identifica melhorias, corrige falhas, monitora vazamentos em tempo real por meio de inteligência artificial e promete redução de gastos com água em até 70%. Desde que começou a atuar, em 2018, a empresa comunica que foram economizados mais de 280 milhões de litros de água potável, quantidade suficiente para abastecer uma cidade de 3 milhões de habitantes por um dia.
Além disso, mais de R$ 9,2 milhões de reais foram poupados pelos clientes, segundo a companhia. Essa economia é o que mantém a startup, que ganha 50% em cima do resultado obtido e não cobra taxas de contratação. “Antes do ESG, tem que vir o ROI (retorno sobre investimento). Se ele não existir, a conta não fecha. Então, o nosso cliente quando começa a economizar milhões de litros de água e a conscientizar pessoas [sobre o melhor aproveitamento da água], ele também está colocando dinheiro do próprio bolso”, afirma Camilo Torquato, CEO da T&D Sustentável.
A Wash Me, startup de gestão de lavagem ecológica de frotas, também trabalha para fazer economia de água e evitar a locomoção da frota, já que presta o serviço na área do cliente. No ano passado, a empresa declara que mais de 60 milhões de litros de água deixaram de ser gastos. O aplicativo da startup permite saber a quantidade de litros poupados e de carbono não emitido ao evitar a movimentação dos veículos para serem lavados.
Para diferenciar-se de outras empresas que prestam o mesmo tipo de serviço, a Wash Me investiu em governança. “Garantimos que a empresa iniciará a operação com as documentações em dia, com funcionários devidamente treinados e registrados e que os serviços de limpeza prestados estão dentro das normas de segurança”, diz o CEO, João Salvatori.
Startup de impacto socioambiental reconhecida pela ONU, a Sustainable Development And Water For All (SDW) disponibiliza tecnologias que dão acesso à água potável para comunidades remotas. Anna Luísa Beserra, CEO da SDW, diz que seus clientes são companhias que têm empreendimentos em áreas próximas a populações com necessidade de água e saneamento e decidem investir em projetos de responsabilidade social. Segundo ela, a cada R$1 investido por empresas em projetos da SWD, R$ 27 retornam para a sociedade.
Isso significa que essas ações conseguem economizar custos com saúde, saneamento, educação e proporcionam melhoria na qualidade de vida para essas comunidades, que têm alta vulnerabilidade social. Ainda assim, há resistências a esses projetos. “Temos uma problemática muito grande com a forma como essas empresas visualizam o investimento social. Elas querem investir o mínimo possível para o maior impacto possível”, diz.
Hoje, a SDW possui entre as tecnologias do seu portfólio o Aqualuz, equipamento de tratamento de água de cisternas que usa a radiação solar, o Sanuseco, banheiro sustentável sem necessidade de descarga para remoção de dejetos, e o Sanuplant, tecnologia complementar ao Sanuseco, voltada para o escoamento e tratamento do esgoto doméstico.
FONTE: Valor.Globo