Ministros Dias Toffoli e Flávio Dino anteciparam voto para acompanhar o relator, ministro Gilmar Mendes, em caso que analisa a possibilidade de ampliação do foro privilegiado no STF.

Com as manifestações dos ministros, já são cinco votos favoráveis à tese de ampliação, faltando apenas um para a formação da maioria.

Além de Dino e Toffoli, ministros Alexandre de Moraes – que também antecipou voto – e Cristiano Zanin, acompanharam o relator.

No entanto, o caso encontra-se suspenso após pedido de vista do ministro Luís Roberto Barroso.

Voto de Dino

Ministro Flávio Dino, em voto sucinto, seguiu entendimento do relator. Dino, manifestando-se no mesmo sentido da questão de ordem do INQ 4.787 , propôs item a mais na tese formulada:

“I – A prerrogativa de foro para julgamento de crimes praticados no cargo e em razão das funções subsiste mesmo após o afastamento do cargo, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados depois de cessado seu exercício;

II – Em qualquer hipótese de foro por prerrogativa de função, não haverá alteração de competência com a investidura em outro cargo público, ou a sua perda, prevalecendo o foro cabível no momento da instauração da investigação pelo Tribunal competente.”

Veja o voto de Flávio Dino.
Caso

O caso em análise envolve um HC impetrado pelo senador Zequinha Marinho, buscando que sua situção seja avaliada pelo STF.

O ex-deputado Federal tornou-se réu por suposta prática de  “rachadinha” durante seu mandato. Conforme a denúncia, Zequinha teria exigido que servidores de seu gabinete, entre 2007 e 2014, depositassem mensalmente 5% de seus salários nas contas de seu partido, sob ameaça de exoneração. 

A defesa argumenta que o STF é competente para julgar o caso, pois o réu ocupou sucessivamente os cargos de deputado Federal, vice-governador do Pará e senador da República. 

O inquérito foi aberto em 2013, inicialmente sob supervisão do STF, mas foi encaminhado ao TRF da 1ª região em 2015, após a renúncia do parlamentar.

Desde então, a denúncia foi oferecida e a ação penal tramitou por quase quatro anos no TRF da 1ª região, por três anos na seção Judiciária do Pará e por mais dois anos na Seção Judiciária do DF.

Após mais de uma década, a instrução processual ainda não foi concluída.

Entendimento atual

Desde 2018 o STF tem adotado o entendimento de que existe foro privilegiado para crimes cometidos por parlamentares durante o exercício do mandato e relacionados às suas funções, segundo a regra da contemporaneidade (AP 937).

Caso o mandato seja encerrado por renúncia, cassação ou não reeleição, a investigação é remetida à 1ª instância, seguindo a regra da atualidade.

Portanto, a única maneira de manter a competência do STF é após o fim da instrução do processo, com a publicação do despacho para apresentação de alegações finais.  

Voto do relator

Ao proferir seu voto, ministro GIlmar Mendes, relator do caso, ressaltou que, nos casos de crimes funcionais, o foro privilegiado deve ser mantido mesmo após o término do mandato.

Nessa linha de raciocínio, o investigado apenas perderia o foro se os crimes fossem cometidos antes de assumir o cargo ou se não estivessem relacionados ao exercício de suas funções.

Em seu voto, Gilmar enfatizou que o entendimento atual do STF restringe de maneira inadequada o alcance do foro privilegiado e é contraproducente ao gerar incertezas sobre a competência nos processos criminais, o que acarreta instabilidade no sistema Judiciário.

“O parlamentar pode, por exemplo, renunciar antes da fase de alegações finais, para forçar a remessa dos autos a um juiz que, aos seus olhos, é mais simpático aos interesses da defesa”, declarou.

Por fim, votou a favor de conceder o Habeas Corpus e reconhecer a competência do STF para julgar o processo

criminal, propondo a seguinte tese:

“a prerrogativa de foro para julgamento de crimes praticados no cargo e em razão das funções subsiste mesmo após o afastamento do cargo, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados depois de cessado seu exercício.”

Além disso, sugeriu a aplicação imediata da nova interpretação aos processos em andamento, com a ressalva de todos os atos realizados pelo Supremo e por outros tribunais de acordo com a jurisprudência anterior.

Fonte: Migalhas

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