Este artigo consiste em uma breve análise sobre as Constelações Familiares e no que as mesmas se baseiam como forma de psicoterapia, sem a pretensão de esgotar ou aprofundar o tema.

Por: Patrícia Castro Dutra

Conceito e origem:

Bert Hellingerfoi um Psicanalista Alemão, nascido em 1925. Desenvolveu uma forma de Psicoterapia que denominou de Constelação Familiar, a qual “É um método que ocorre em um grupo sob orientação de uma pessoa. Serve às pessoas para descobrir os antecedentes de fracasso, doença, desorientação, dependência ou algo semelhante. A Constelação Familiar é útil sempre que haja uma necessidade para uma ação ou decisão imediata.” (www.hellinger.com).

Consiste em um método de abordagem sistêmica e fenomenológica, através do qual se observa o que acontece e se identifica e harmoniza ligações e vínculos ocultos que estão gerando conflitos, permitindo a harmonização do sistema daquela pessoa. É conduzida pelo Constelador, o qual não interfere, apenas observa a dinâmica que se apresenta no caso concreto, estando conectado ao Algo Maior e fazendo uso de frases de cura.

Na Constelação Familiar não há julgamento, e não se predetermina o que pode ou não ser verdade. Tudo e todos estão interconectados, pensando no corpo humano e no Universo como um todo, através de uma consciência maior, baseada no amor, e que tudo coordena (Algo Maior).

Trabalhando em grupos com a Tribo do povo Zulu, na África, Bert Hellinger percebeu que havia uma sensação de pertencimento entre eles. A comunidade Zulu honrava seus antepassados e, também, as suas próprias vidas.

Essa percepção da realidade Zulu, fez Bert Hellinger desenvolver o conceito das Consciências, dividindo-as em Boa e Má Consciência. A consciência está no Campo Morfogenético, passando de geração em geração, e remonta a até sete gerações passadas, em que pese atue com mais força nas últimas quatro gerações. A consciência atua diretamente sobre o indivíduo, conforme o conjunto de valores repassados pelo seu sistema.

De acordo com esse conceito, o indivíduo age em Boa Consciência toda vez que molda sua vida e suas ações/reações àquilo que o seu grupo, a sua comunidade entende ser o correto, entende ser o melhor. Isso não significa que o indivíduo e o grupo ao qual pertence estão agindo “de forma correta”, dentro do que prescrevem as normas legais e morais, mas sim quer dizer que há normas do grupo, e que estas são seguidas por todos, de Boa Consciência.

Por outro lado, aquele indivíduo que age de forma contrária ao pensamento predominante do grupo, estará agindo em Má Consciência (mesmo que esteja fazendo “o que é correto”, agindo de acordo com as leis e a moral social). Esse agir contra as ideias do grupo deixa o indivíduo sentindo-se culpado, pois todos temos a necessidade de pertencer, e quando o indivíduo deixa de seguir as normas do grupo ao qual está inserido, ele deixa ou corre o grave risco de deixar de pertencer àquele grupo, gerando um conflito interno, um desequilíbrio (no indivíduo e no sistema).

Esse conflito somente pode ser amenizado quando o indivíduo assume o seu estado do Eu Adulto, que lhe permite observar a dinâmica do grupo e optar conscientemente por fazer diferente, quebrando um ciclo de repetições que inclusive (e provavelmente) causava danos ao seu sistema familiar. A partir de então o Campo entra em movimento e as alterações necessárias são possíveis, restaurando eventuais desordens e doenças.

As Constelações Familiares baseiam-se em Leis ou Ordens do Amor. São elas: Pertencimento, Ordem e Equilíbrio. Quando alguma das Leis ou Ordens do Amor é violada, surgem problemas no ambiente familiar, pois os membros do sistema tendem a tentar corrigir o que aconteceu, gerando um desequilíbrio e/ou emaranhamento.

A Constelação Familiar serve às pessoas, por isso o pertencimento é tão importante, pois aqui não existe a exclusão. Todos devem ser vistos com assentimento (da forma como são e foram, sem julgamentos e exclusões).

Tudo o que o indivíduo faz em seu sistema visa o pertencimento. Em razão disso, molda suas ações e até seus pensamentos para se adequar aos grupos e permanecer vinculado aos mesmos, não sendo excluído. Ele também age instintivamente, baseado nas consciências que herdou através do campo morfogenético, para continuar pertencendo ao grupo. Por isso, muitas vezes o indivíduo age de forma inconsciente, repetindo padrões herdados do seu campo.

Isso se aplica não só ao grupo familiar, mas a todos os campos dos quais fazemos parte em nossas vidas, pois o ser humano nasce com a necessidade de pertencer, até como forma de sobrevivência.

Por óbvio, o pertencimento também gera julgamento e exclusão, eis que para pertencer a um grupo, abro mão de outro que tem normas diferentes. Da mesma forma, há um julgamento sobre os demais membros, analisando se os mesmos merecem ou não permanecerem ou ingressarem naquele grupo, e assim mantendo a minha própria permanência e satisfazendo minha necessidade de pertencimento.


Todas as Leis ou Ordens do Amor atuam na dinâmica das Consciências.

Importante mencionar que o Pertencimento busca, sempre, o Equilíbrio do sistema (equilíbrio entre dar e receber). É a Lei da Homeostase.

De acordo com as Constelações Familiares de Bert Hellinger, somos movidos por Lealdades e Compensações ao sistema. Somos leais aos nossos antepassados, e sempre que ocorre um dano no sistema, esse dano deve ser reparado. Aí entra a Compensação, pois o sistema sempre visa a restauração do seu Equilíbrio. É no Equilíbrio entre o dar e o receber que se alcança a harmonia e gera o fluxo de amor entre as gerações, por isso o sistema sempre busca o Equilíbrio.

Nessa dinâmica, cada indivíduo possui um lugar determinado no sistema, e deve respeitar o lugar de todos os demais. É a Ordem e a Hierarquia, baseadas na ordem de chegada de cada indivíduo naquele sistema. Quem chegou primeiro, é maior e deve ser respeitado e honrado pelos que vieram depois. Cada um no seu lugar e no seu papel, com a sua devida importância.

Assim agindo, o sistema estará em seu Equilíbrio e, cada vez que este for quebrado, iniciará um Movimento do campo para que o dano seja reparado, o excluído seja visto, e o Equilíbrio finalmente restaurado. Esse movimento todo traz paz ao sistema e seus integrantes, conferindo-lhes força para seguir em direção à vida (que é o grande objetivo).

Para Bert Hellinger, as consciências são Campos Espirituais ligados ao Algo Maior (uma consciência maior, formada por todas as demais e tendo como grande força de atuação o amor).

Ele dividiu as consciências em três tipos: Pessoal, Coletiva e Espiritual. A Consciência Pessoal está ligada à nossa mente consciente, ao nosso ego, baseada em raciocínio lógico, com julgamento e classificação. A Consciência Coletiva está ligada ao nosso subconsciente, de onde agimos a maior parte do tempo sem percebermos, onde estão armazenadas nossas crenças e valores, moldando nossos atos e pensamentos. A Consciência Espiritual está ligada à supraconsciência, ao Sim Incondicional, acessando a primeira força do amor, fazendo surgir o movimento da vida e dizendo sim ao nosso pai, à nossa mãe e à própria vida.

Baseado nessas consciências, os conflitos entre os indivíduos nascem a partir da oposição entre a Consciência Familiar e a Consciência Pessoal. A primeira está a serviço maior, da Consciência Universal; ela inclui, não admite exclusões, entende que todos pertencem e possuem um lugar no sistema, mesmo que esse lugar não possa ser ocupado por mais de um indivíduo. A segunda, movida pelo Ego, baseada em críticas e julgamento, admite exclusões.  

As consciências se manifestam nos sistemas familiares através dos “ditados populares”, e são elas que impulsionam e protegem aquele grupo familiar, sendo repetidas uma geração após a outra. Por exemplo, uma família que repete para seus membros que “o dinheiro não traz felicidade”.

Assim, uma vez instaurado o conflito, o campo entra em movimento para corrigir o sistema. Aqui, os indivíduos são chamados a atuar para o Equilíbrio, e o dano poderá ser reparado tanto por quem o causou quanto pelos seus descendentes.

Muitas vezes, nesse processo de restauração do equilíbrio e de reparação do dano, surge na família a figura da “Ovelha Negra”, ou seja, um indivíduo daquele sistema começa a observar e rejeitar aquelas crenças familiares, indo contra a  Boa Consciência da família. A Ovelha Negra olha para tudo e não se sente à vontade, precisando fazer diferente mesmo com o risco da sua exclusão.

Quando esse indivíduo consegue fazer a mudança de paradigma, sem julgamento e sem condenar os demais membros do seu sistema, agindo a partir do Estado do Eu Adulto, mesmo que sinta culpa por estar contra os demais, conseguirá alterar o que está errado. Assim, a Ovelha Negra quebra esse padrão nocivo e repetitivo estando na sua própria Boa Consciência.

Todos os que foram excluídos em algum momento, mesmo em gerações futuras, terão que ser vistos, e isso fará com que os indivíduos das próximas gerações atuem em suas vidas por lealdade ao seu antepassado, tanto para corrigir algo, quanto para compensar um dano ou incluir quem foi excluído, pois todos pertencem, independentemente da vontade dos demais.

Quando não se respeita a Ordem/Hierarquia ocorre o emaranhamento. Aquele que toma o lugar de outro no sistema gera desequilíbrio, se emaranha nas questões do outro, sai do seu próprio lugar para tomar o lugar do outro e, assim, não conseguirá estar disponível para a vida enquanto não resolver essa questão.

É necessário, sempre, tomar pai e mãe, para que então o indivíduo possa estar disponível e seguir para a vida. Isso só ocorre quando estamos livres de julgamento, assentindo a tudo e a todos, exatamente como é/foi e como são/foram.

Os conceitos de Boa e Má Consciência também são determinantes na instauração dos conflitos, pois quem age de boa consciência pode estar ou não causando danos a outros (do seu ou de outro sistema), assim como quem age de má consciência pode perfeitamente estar cessando uma repetição de comportamentos nocivos que perdurava há gerações. Dessa forma, restaurando o Equilíbrio e a paz ao sistema, permiti-se que todos sejam vistos, que todos os lugares sejam respeitados e que todos se movam em direção à vida.

  1. Autora:

Patrícia Castro Dutra

Formada em Ciências Jurídicas e Sociais em 2002, pela PUC/RS;

Advogada atuante desde 2004;

Sócia do Escritório Andréa Ferrari Advogados Associados;

Pós-Graduação em Direito Público com ênfase em Direito Constitucional pela Verbo Jurídico;

Pós-Graduanda em Prática Sistêmica do Direito e das Constelações Familiares no Sistema de Justiça, pela Verbo Jurídico;

Membro da Comissão Especial de Direito Militar da OAB/RS.

  • Palavras chave:

Constelações Familiares. Bert Hellinger. Conceito. Fundamentos.

  • Referências Bibliográficas:
  • https://www.hellinger.com
  • Lisboa, Ana Carolina – Bert Hellinger e as Constelações Familiares (aula do curso de pós graduação em Prática Sistêmica do Direito e as Constelações Familiares no Sistema de Justiça, da Instituição de Ensino Verbo Jurídico)
  • Pan Nys, Cristiane –Fundamentos Sistêmicos (aula do curso de pós graduação em Prática Sistêmica do Direito e as Constelações Familiares no Sistema de Justiça, da Instituição de Ensino Verbo Jurídico)

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